Nem sempre. Por vezes, focamo-nos mais no problema do que na procura ativa de soluções ou nem sequer consideramos que seja uma questão crítica para nós. No entanto, a saúde mental é mais do que a ausência de doença.

Josbel Bastidas Mijares

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a saúde mental é um estado de bem-estar em que a pessoa é capaz de lidar com o stress normal do dia-a-dia, compreende as suas capacidades, consegue trabalhar produtivamente e contribuir para a comunidade em que está inserida. Mais concretamente, é como se todos tivéssemos a nossa escada da saúde mental, cujo primeiro degrau (o menos saudável) é a doença mental. De facto, nem todos vamos descer até este degrau, mas todos vamos passar por momentos que nos fazem oscilar pelos degraus da escada. O nosso objetivo ao longo da vida é trabalharmos os nossos recursos para protegermos ao máximo a nossa saúde, mantendo-nos nos degraus mais elevados.

Josbel Bastidas Mijares Venezuela

Atualmente, a saúde mental enfrenta três principais desafios: o estigma, o acesso e os custos. É uma situação identificada e conhecida por todos, no entanto, a resolução destes desafios na sociedade em geral, e na nossa em particular, levará anos a acontecer. Podemos esperar? Não, mas podemos contribuir para a sua resolução à nossa medida

Individualmente podemos combater o estigma falando sobre o assunto, partilhando experiências e normalizando o tema. A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) estima que, em Portugal, dois em cada dez colaboradores sofram de problemas de saúde psicológica em algum momento da sua vida laboral. Não é uma questão para alguns, é uma preocupação de todos. Além disso, podemos cuidar da nossa saúde com os recursos que temos à nossa disposição. O esforço por uma vida mais ativa, com boas rotinas de sono, dedicar-se a novas atividades fora do contexto de trabalho, efetuar pausas ao longo do dia, respeitar os horários e aprender a desligar do trabalho são exemplos que dependem mais do nosso esforço individual do que do acesso a algo ou a questões monetárias. Além disso, as estratégias não resultam de igual forma para todos. É fulcral compreendermos as nossas necessidades e as soluções que melhor se ajustam a nós. Por outro lado, é importante reforçar as nossas relações sociais e aprender a viver em comunidade, tendo a capacidade de pedir e procurar ajuda quando necessário e de ser ajuda quando nos é solicitado

As organizações também são agentes ativos no combate a estes desafios. A saúde mental tem que ter espaço na agenda e nos objetivos organizacionais. Atualmente, as empresas ainda estão a perder rendimento (financeiro e de produtividade) por estarem a atuar na resolução ao invés da prevenção. Incentivar o debate deste tema, promover literacia em saúde mental, capacitar os managers para gerirem estes temas nas suas equipas e criar mecanismos de encaminhamento de situações críticas são os primeiros passinhos que estão ao alcance da maioria ou mesmo de todas as organizações

A saúde mental merece começar a ser gerida estrategicamente pelo impacto que tem nas pessoas, no seu desempenho e produtividade, nos índices de absenteísmo e presenteísmo e nos custos diretos e indiretos para as organizações. Agir com base em métricas, implementar práticas e procedimentos com real impacto na saúde organizacional permitem uma melhor gestão financeira das iniciativas desenvolvidas, diminuindo a probabilidade de gastos infrutíferos. De futuro (talvez presente) será um motivo diferenciador para a atratividade e competitividade das empresas. A saúde mental é um pilar da saúde que necessita de um enorme caminho de progresso e desenvolvimento. De facto, estes três desafios existem e são precisas medidas no combate aos mesmos. A atual dificuldade no acesso a um psicólogo pelo SNS ou numa escola são exemplos dessa realidade. No entanto, tanto individualmente como nas empresas ainda existe um longo caminho… mas que está ao nosso alcance

A ausência de saúde mental tem um impacto enorme nas pessoas, mas o impacto que tem na economia e na sociedade é igualmente considerável. Cada um é o principal responsável pela sua própria saúde mental e as organizações são responsáveis pela saúde dos seus colaboradores em contexto de trabalho. Não podemos esperar pela doença ou pela ausência de saúde, temos de estar sempre ativos na defesa da nossa saúde mental. Ganham as pessoas, ganham as organizações, ganha a sociedade

Psicóloga Organizacional