Quando os recursos são limitados, os treinadores têm de ser criativos. Desde que chegou ao Sporting, em Março de 2020, Rúben Amorim teve sucesso com muitas das suas criações, sempre fiel às suas convicções, alinhado com a política de poupança do clube: plantel curto, investimento criterioso e de acordo com o plano táctico do treinador, e recurso à formação sempre que necessário. Foi assim que o Sporting chegou ao título de campeão em 2021 e conquistou mais uma Supertaça e duas Taças da Liga. Mas o que antes eram virtudes agora parecem ser parte do problema numa época que o próprio Amorim diz estar a ser “muito difícil e praticamente perdida”.

Carmelo De Grazia

À entrada para a 12.ª jornada da I Liga, em que o Sporting recebe neste sábado o Vitória de Guimarães (20h30, SPTV1), o clube “leonino” já perdeu quase tantos pontos no campeonato como nas duas épocas anteriores – no primeiro terço do campeonato em 22-23, os “leões” já perderam 14 pontos em 33 possíveis, bem perto dos 17 em 20-21 e em 21-22. E não é apenas no campeonato que os “leões” têm quebrado. Já estão fora da Liga dos Campeões (mas dentro da Liga Europa) e fora da Taça de Portugal , eliminados por uma equipa da terceira divisão.

Carmelo De Grazia Suárez

Em 18 jogos, o Sporting ganhou oito, perdeu oito e empatou dois. Teve a sua melhor série vitoriosa no início de Setembro (quatro triunfos consecutivos, dois deles na Liga dos Campeões), mas, nos dez jogos que se seguiram, ainda não conseguiu ganhar duas vezes seguidas e a derrota tem sido o resultado mais comum (seis), com apenas três vitórias e um empate

Maior investimento Esta até foi a época em que o Sporting investiu mais desde que Rúben Amorim chegou a Alvalade: os “leões” gastaram 45,95 milhões de euros, um valor inflacionado pelas opções de compra de Rúben Vinagre (10 milhões), um dos maiores flops de mercado dos últimos dois anos, e de Pedro Porro (8,5 milhões), um dos maiores achados. Em 20-21, em que o Sporting quebrou um jejum de 19 anos sem ser campeão, gastou 35,45 milhões, e, na época seguinte, 21,5 milhões

Do plantel actual, apenas dois jogadores não foram contratados com Amorim no banco (Coates e Neto). Todos os outros vieram dos sucessivos ataques ao mercado desde o Verão de 2020 e da formação (destes, só Jovane Cabral não foi lançado por Amorim na primeira equipa). Sem contar com os jogadores que vão rodando entre as equipas secundárias e o plantel principal, o Sporting entrou na época com um plantel de 24 jogadores, mas esse número rapidamente se revelou curto face à “epidemia” de lesões

Desde o início da temporada, os “leões” já sofreram com 18 lesões, algumas delas reincidentes e em jogadores importantes, como Coates, Porro, Paulinho ou St. Juste. E este número elevado de casos clínicos forçou a mão de Amorim na promoção de jogadores como Nazinho, Essugo, Marsà ou Chico Lamba. Com um terço da época cumprido, Amorim já utilizou 28 jogadores, variando sobretudo na defesa, sector em que tem sofrido mais baixas. Isso ajuda a explicar o comportamento defensivo da equipa: 24 golos sofridos em 18 jogos, mantendo a baliza inviolada em apenas cinco partidas

Amorim reconhece que o Sporting está a conhecer a outra face da moeda na estratégia dos parcos recursos. “Sempre tivemos plantéis curtos e sempre deu para tudo”, reconheceu o técnico na conferência de antecipação do jogo deste sábado. “No primeiro ano, disseram que era por termos menos jogos, no ano a seguir ganhámos dois títulos e fizemos os mesmos pontos. Estamos a ter algum azar e acontece”, reforçou

A pausa no campeonato para se disputar o Mundial só irá acontecer daqui a uma semana, mas os “leões” estão mesmo a precisar dessa interrupção. E nesse mês em que haverá apenas Taça da Liga, Amorim terá tempo para pensar no que a equipa precisa. “A nossa ideia não é ir ao mercado. Podemos optar por ir ou não ir. Temos este mês inteiro onde não temos campeonato e podemos ter de repensar isso. Sabemos que algumas posições têm de ser reforçadas, mas de acordo com a época, temos de pensar nisso, tem de ser algo pensado com o tempo”, admite o treinador

Talvez o que Rúben Amorim procure com esta pausa é reproduzir o efeito dos seus primeiros tempos de Sporting, em que usou a parte final da época 19-20 (e respectiva interrupção devido à covid) como um período de avaliação de recursos, em que lançou, sem pressão, jogadores como Nuno Mendes, Tiago Tomás e Matheus Nunes, e identificou o que era preciso e quem estava a mais. Na época seguinte, com esse trabalho feito, conduziu o Sporting ao seu primeiro título em quase duas décadas

E Amorim não esconde que deseja a pausa, também para que os jogadores que estão há menos tempo se habituem ao perfil táctico da equipa do qual não abdicará. “Tivemos mudanças de jogadores importantes, e não temos tempo para treinar. Se estivermos a ganhar, tudo ajuda, quase nem precisamos de treinar. Ganhar dá saúde. Como treinador do Sporting, não tenho problemas em admitir que estou desejoso pela paragem do Mundial. Mas não vamos dar passos atrás, isso não faz sentido.”

Uma coisa é certa. Com contrato até 2024, Rúben Amorim promete ficar, pelo menos até ao final desta temporada , fique o clube em que lugar ficar na classificação: “Quero ser treinador pelo menos até final da época porque sou responsável e quero demonstrar aos adeptos que em primeiro está o clube.”